terça-feira, julho 24, 2007

Breve biografia de Bertrand Russell

Bertrand Russell (nascido em 18 de maio de 1872, no País de Gales): filósofo neo-empirista, lógico e matemático, dentre os maiores do século XX, Prêmio Nobel de Literatura em 1950.

“(...) Em sua Autobiografia (1962), olhando para toda sua vida, Bertrand Russell escreveu: ‘Acho que valeu à pena vivê-la e a reviveria alegremente se me fosse oferecida essa possibilidade’. Uma vida que, prossegue ele, foi dominada ‘por três paixões simples, mas de força irresistível: a sede de amor, a busca do conhecimento e uma imensa piedade pelos sofrimentos humanos’.

(...) Persuadido de que os valores não podem ser deduzidos logicamente do conhecimento, Russell foi tenaz defensor da liberdade do indivíduo contra toda ditadura e contra os abusos do poder. Sensível às injustiças sociais, Russell também foi convicto defensor do pacifismo.

Ele fez questão de escrever, falando sobre a Primeira Guerra Mundial: ‘Um efeito da guerra foi o de tirar-me a possibilidade de viver num mundo de abstrações. Eu olhava para os jovens que subiam nos trens militares para irem se fazer massacrar nas trincheiras por culpa da estupidez dos generais. Sentia uma intensa compreensão para com aqueles jovens e me sentia ligado ao mundo real, em um estranho matrimônio de dor. Todos os elevados pensamentos que tive sobre o mundo abstrato pareciam-me pequenos e vulgares diante dos terríveis sofrimentos que me circundavam. O mundo não humano tornava-se um refúgio ocasional, mas não uma pátria onde fosse possível construir uma moradia permanente’.

Com suas dilacerações e seus sofrimentos, amiúde inúteis, a vida irredutível e obstinada levou Russell do céu da matemática à terra dos homens sofredores. Adversário das injustiças do capitalismo não foi menos duro em relação aos métodos do bolchevismo *.

(...) Em 1954, apoiado por Einstein, promoveu uma campanha contra os armamentos atômicos.

(...) Pacifista coerente e desmistificador corajoso, Russell pagou pessoalmente pelos seus ideais. Foi processado várias vezes, esteve em prisão **, enfrentou a impopularidade, foi-lhe tirada a cátedra de filosofia no City College de Nova Iorque. (...) a Corte Suprema de Nova Iorque decretou o afastamento de Russell, cuja obra foi qualificada de ‘obscena, libidinosa, lasciva, depravada, erótica, mentirosa e desprovida de qualquer fibra moral’.

(...) Russell defendeu o amor livre. Causou-se quatro vezes e, evidentemente, divorciou-se três vezes. Em 1927, juntamente com a segunda mulher, Dora Winefred Black, chegou a fundar uma escola baseada em princípios educativos ‘revolucionários’: nela, os rapazes e moças liam aquilo que quisessem, nunca eram punidos, tomavam banho juntos e corriam nus pelo parque. A escola faliu.

(...) Na realidade, como recorda seu biógrafo A. Wood, Russell ‘combateu um estado de coisas cruel e absurdo, no qual os jovens eram mantidos deliberadamente na ignorância dos fatos sexuais, de modo que um rapaz podia acreditar que as mudanças de puberdade fossem sintomas de alguma pavorosa doença e uma moça podia se casar sem saber o que a esperava em sua noite de núpcias, no qual ensinava-se às mulheres a ver as relações sexuais não como uma fonte de alegria, mas como um penoso dever matrimonial, no qual a pruderie chega ao ponto de envolver em drapeados as pernas dos pianos, no qual o mistério criado artificialmente evocava uma curiosidade doentia e a hipocrisia se acompanhava de infidelidade, no qual não havia saída da infelicidade de um matrimônio fracassado senão através das complicadas provas legais do adultério e no qual um rígido código moral se acompanhava da tácita aceitação da prostituição.’

Russell dedicou sua vida a um mundo novo, no qual, como ele fazia questão de dizer, ‘o espírito criativo é vivaz, e em que a vida é uma aventura de alegria e de esperança (...), um mundo no qual o afeto tenha livre trânsito e onde a crueldade e a inveja tenha sido afugentados pela felicidade e pelo desenvolvimento livre e solto de todos aqueles instintos que constroem a vida e a enchem de delícias intelectuais. Esse mundo é possível: ele espera apenas que os homens queiram criá-lo.’

Russell também escreveu uma brilhante História da filosofia ocidental (4 vols., 1934), onde tenta mostrar que ‘os filósofos são resultado de seu meio social’. Bertrand Russell morreu*** na noite de 03 de fevereiro de 1970, uma segunda-feira.”

* Bolchevismo: sistema político dos bolcheviques.

Bolchevique: diz-se da ala majoritária do Partido Operário Social Democrata da Rússia que, com Lenin, liderou a revolução de 1917, e por fim passou a constituir-se no Partido Comunista da antiga União Soviética.

** Por quatro meses.

*** Mentalmente lúcido e atento, aos noventa e oito anos de idade, no País de Gales.

Texto extraído de: REALE, G.; ANTISERI, D.. História da Filosofia V. III. Editora Paulus, São Paulo, 1991.

"O processo que levou uma ameba a se transformar no homem é considerado obviamente um progresso pelos filósofos - se a ameba concordaria com essa opinião, não se sabe."

Bertrand Russell